Texto : João 4:1-34
O Pr. Neil Barreto disse que o jejum,
que Jesus pede, é o de nos negarmos para seguí-lo, isto é, que façamos jejum de
nós mesmos. Do que se alimenta aquele que faz o jejum que Deus pede? Do que se
alimenta aquele que negou-se a si mesmo? O que lhe dá compensação pessoal? No
que ele se realiza? Quero responder à essas perguntas a partir do diálogo de
Jesus com a mulher da Samaria.
Jesus estava, estrategicamente, a
voltar para Galiléia, e decidiu passar por Samaria, o texto diz: “era-lhe
necessário atravessar a província de Samaria” - não era uma necessidade
geográfica, ou seja, esse não era o único jeito de chegar na Galileia partindo
do sul. Ele podia ir para a Galiléia sem passar pela Samaria, até porque a
relação entre judeus e samaritanos era muito ruim, e, portanto, era sempre
arriscado atravessar as terras samaritanas. Porém, como o evangelho de João nos
diz, “era-lhe necessário atravessar a província de Samaria”, então, eu concluo
que foi uma determinação de Jesus, alguma orientação que Ele recebeu do Pai, de
que Ele tinha de passar por Samaria.
Era hora do almoço, Ele estava com
sede e os discípulos foram comprar comida. Ele estava a beira de um poço,
quando veio uma mulher samaritana buscar água. O horário que essa mulher foi
buscar água era absolutamente impróprio, pois a região era semi-desértica,
fazia muito calor, e as mulheres não iam buscar água na hora do almoço. O fato
daquela mulher estar lá, por volta do meio dia, significava que ela tinha algum
problema com a comunidade dela. Ou ela não andava com as mulheres da
comunidade, porque haviam sido proibidas de andar com ela, ou ela decidiu que
não iria andar com as mulheres. Não sei. Porém uma coisa é certa, algo havia
acontecido.
Jesus está no poço, ela chega, e
Jesus diz: “Da-me de beber!" Ao ouvir isso, a mulher reagiu: “Como o
senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber? Porque os
judeus e os samaritanos não se davam." O que precisamos saber é que a
situação era muito densa. Primeiro, um mestre não devia falar com uma mulher.
Segundo, especialmente se fosse samaritana. Terceiro, um judeu não podia se
alimentar ou beber em prato ou cuia de samaritano, pois, se isso acontecesse,
ele ficaria quarenta dias sob maldição, impossibilitado de participar do culto
a Deus.
O ódio dos judeus aos samaritanos era
tão grande, que todo judeu, principalmente os fariseus, ao se levantarem de
manhã, davam graças a Deus por não terem nascido nem mulher e nem samaritano.
Por isso que, quando Jesus diz à mulher: “Da-me de beber", ele estava quebrando
um grande preconceito, na verdade quatro: o primeiro preconceito, que Ele ele
quebra, era o de falar com uma mulher, o segundo, era o de falar com alguém
samaritano, o terceiro, era o de pedir para beber água no mesmo copo que ela (o
que o tornaria imundo para os judeus) e, o quarto, era discutir teologia com a
mulher.
Quando a mulher diz “ Como o senhor,
sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber?”, Jesus se explica, e
começa uma conversa teológica com a mulher, o que era absolutamente proibido,
pois os mestres não podiam falar com as mulheres, e as mulheres não tinham o
direito de receber nenhuma informação sobre a revelação, sobre as Escrituras e
sobre a vontade de Deus. Essas verdades divinas, só podiam ser ditas aos
homens, e eles as passavam para as mulheres (esposa, filhas, irmãs), pois elas
não tinham acesso direto.
Jesus começa a dizer para ela: “Se
você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria
pedido e ele lhe teria dado água viva”. Água viva, naquela época era a forma de
se referir à um rio de águas correntes. Ele quem puxa o assunto, Ele que chama
a mulher para conversar sobre coisas espirituais, o que significa que Jesus
está quebrando todos os padrões ao começar essa conversa. A mulher, dando
continuidade à conversa diz: “ O senhor não tem com que tirar água, e o poço é
fundo. Onde pode conseguir essa água viva?” Ela está sob impacto de um homem
judeu que pede para beber água do mesmo copo que ela, então, percebe que Ele
está tratando de uma coisa espiritual e diz: “ és, porventura, maior que nosso
pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem como seus filhos e
seu gado?” E Jesus diz que era maior que Jacó ao dizer: “Quem beber dessa água
terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá
sede. Ao contrario, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a
jorrar para a vida eterna” . Ele estava falando do Espirito Santo, o que o faz
quebrar outro preconceito, oferecendo o Espirito Santo para uma mulher samaritana
(que é o cumprimento da profecia de Joel, que os judeus entenderam que era
apenas para eles. Jesus oferece a profecia, que, portanto, seria apenas para os
judeus, para a mulher samaritana).
Com Jesus dando continuidade à
conversa, a mulher responde: “Senhor, dê-me dessa água, para que eu não tenha
mais sede, nem precise voltar aqui para tirar água”. Nesse momento, parece que
Jesus retoma á posição de mestre, e diz a ela: “Vá, chame o seu marido e
volte”, ao que ela respondeu: “Não tenho marido” , e Jesus replicou: “Você
falou corretamente, dizendo que não tem marido. O fato é que você já teve
cinco; e o homem com quem agora vive não é seu marido. O que você acabou de
dizer é verdade.” A mulher leva um susto e diz: “Vejo que és profeta!”.
Agora, o que Ele diz dessa mulher é
muito curioso, pois essa mulher teve cinco maridos. A gente tem, como a
primeira impressão, a de que estamos tratando com uma mulher com um problema
moral seríssimo, porém, não faz sentido pensar assim, porque ela teve cinco
maridos, não cinco amantes. Ela devia ser uma mulher extraordinária, pois cinco
homens quiseram se casar com ela. Mas, quatro maridos deram-lhe carta de
divórcio, e o quinto, deve tê-la repudiado; ela se une a um sexto homem, mas
esse homem não é seu marido. Do ponto de vista daquela tradição, tanto da
judaica quanto da samaritana, ela estava em pecado, porque o quinto marido,
provavelmente, a repudiou. Quando o sexto homem quis se casar com ela, mesmo
assim, ele não pôde, pois ela havia sido repudiada, não havia recebido carta de
divórcio, então, o relacionamento era tido como adulterino.
Que mulher extraordinária é essa, que
cinco homens querem se casar com ela? E que mulher é essa que quatro homens
deram-lhe carta de divórcio e o quinto, provavelmente, a repudiou? Não deve ser
por questões morais, porque se fosse, ela não se casaria pela segunda vez... De
jeito nenhum! Essa história de sucessivos casamentos, fruto do desejo que
despertava, mesclada com sucessivas rejeições, parece que se explica por ela
ser o tipo de mulher que ela demonstra ser, nesse diálogo com Jesus, uma mulher
que tem opinião própria, o que, naquela época, era o mesmo que ofender séria e
profundamente a um homem.
Me lembro que, certa feita, os
organizadores de um congresso de missões, trouxeram do Oriente Médio, um ex
muçulmano convertido à Cristo, que era uma espécie de consultor para
missionários ocidentais que queriam ir para o Oriente Médio, que sempre era
chamado para dar treinamento a esses missionários.
Naquele congresso especifico, algumas
irmãs pediram para ter uma reunião com ele, pois queriam saber como poderiam ir
para o Oriente Médio para evangelizar as mulheres. Esse irmão, então, começou a
aula para as mulheres dizendo que elas nunca iriam conseguir evangelizar as
mulheres do mundo dele. Quando elas perguntaram, por quê? Ele disse “Porque as
senhoras estão olhando nos meus olhos, me fazendo uma pergunta direta, e não
pediram licença para fazer a pergunta. Isso é inadmissível para uma mulher na
minha cultura. Elas estariam olhando para o chão, não me contestariam, e
pediriam permissão para me fazer uma pergunta”.
Essa mulher samaritana tinha essa
postura, reprovada pelo consultor missionário, de quem não se submete
facilmente, de que tem opinião própria, de quem quer participar, e isso era um
tabu. E vemos isso na forma como ela fala com Jesus, se contrapondo a Ele:
“Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber?”.
Quando ela diz: “acaso o senhor é maior do que o nosso pai Jacó?”, vemos a
percepção teológica dessa mulher. Ela sabe que está diante de um milagre, pois,
aquele poço tinha mais de mil anos, e continuava a dar água.
Ao ser perguntado se era maior que
Jacó, Jesus responde, como se dissesse: “Sou, pois que o eu ofereço é Vida
Eterna, e Jacó não tinha como oferecer isso”. Assim que a mulher disse que
queria da água, Jesus pede para ela chamar seu marido, ao que ela revela que
não tinha marido. É como se ela dissesse: não tenho ninguém a quem chamar, não
chamarei ninguém, se quiser falar sobre algo comigo, faça-o a mim, ou não o
fará. Essa senhora parece mais uma precursora do que chamaríamos, hoje, de
emancipação feminina.
Quando aquela mulher disse a Jesus
que não tinha marido, foi surpreendida por Jesus que disse: “é verdade, pois,
esse que está com você, agora, não é seu marido, isso você falou com verdade”.
Estamos diante de uma mulher especial, sofrendo o tabu da sua geração.
Porém, ela está sendo salva por um
Deus que quebra tabus, desconsidera preconceitos e liberta os homens dos
efeitos destes preconceitos, assim como clama aos preconceituosos que se
arrependam, enquanto é possível. Preconceito é o supra-sumo da auto veneração.
Qualquer pessoa que discrimine a outro ser humano é réu do inferno.
Jesus começa a dizer-lhe algo que ela
jamais esperaria ouvir de um homem, ainda mais de um judeu, ainda mais de um
mestre. Ela diz, “senhor, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste
monte, vós, entretanto dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” e
Jesus lhe disse, “Mulher, podes crer que a hora vem quando nem neste monte, nem
em Jerusalém adorareis o Pai, vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o
que conhecemos porque a salvação vem dos judeus, mas vem a hora, e já chegou,
em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espirito e em verdade porque
são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espirito, e importa
que seus adoradores o adorem em espirito e em verdade”. Essa frase de Jesus é
extraordinária, porque adorar não é cantar. Adorar, é pedir perdão para Deus.
Quando ela diz “nossos pais adoravam
nesse monte” está apontando para o monte Gerizim, onde as tribos do norte
construíram um templo, que rivalizava com o templo de Jerusalem.
Historicamente, o monte de Gerizim era o lugar mais adequado para construir um templo,
pois quase tudo o que aconteceu na história de Israel em termos de adoração a
Deus, aconteceu no monte Gerizim. Davi, entretanto, conquistou a terra dos
Jebuzeus, conquistou o monte Sião, conquistou Jerusalém, e o Senhor decidiu que
se poderia construir o templo em Jerusalem.
O que se fazia no templo? A pessoa
que ia no templo, tanto em Gerizim, quanto em Jerusalem, ia pedir perdão. Por
que o sujeito está indo no templo? Porque ele quebrou a lei de Moisés e vai
levar um animal para morrer no lugar dele. Adorar a Deus, é pedir perdão.
E isso me parece absolutamente
natural, porque tudo o que eu disser a Deus, não o alcança. Eu posso dizer que
Deus é bom, mas o bom que eu sou capaz de dizer é infinitamente menor do que o
bom que Deus é. Eu posso dizer que Deus é amor, mas o amor que eu sou capaz de
dizer, é infinitamente menor que o amor que Deus é. Então quando é que a minha
palavra realmente toca Deus? Quando eu digo a Ele: ‘ Me perdoa Senhor, faça em
mim a tua vontade’. Isso é adorar a Deus.
Jesus diz para a mulher “O lugar de
adorar é em Jerusalém, pois a Salvação vem dos judeus, nós recebemos a
revelação, "mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espirito e em verdade”, ou seja, já chegou a hora, em que você
vai poder pedir perdão a Deus a qualquer hora e em qualquer lugar. Porque Deus
é espirito, então Ele está em todos os lugares, Deus não pode ser contido em
lugar nenhum e em espaço algum.
Se ela tivesse ido mais longe na
conversa, poderia ter feito duas perguntas. A primeira pergunta seria: ‘então
não precisa mais de templo?’ e Jesus diria ‘ não, não precisa mais de templo,
nem em Jerusalém, nem no monte Gerizim. O templo passará a ser você e todo
lugar.’ A segunda pergunta que ela poderia ter feito é: ‘e quem vai morrer em
meu lugar?’ E Jesus responderia: ‘eu morro no seu lugar’.
Repare que essa mulher é brilhante,
pois quando ela diz a Jesus “Nossos pais adoravam neste monte, vós, entretanto
dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” o que ela estava
querendo dizer a Jesus era algo, como: ‘eu sei que tenho um problema para
resolver com Deus, mas ninguém mais sabe aonde se resolve o problema com Deus,
os nossos pais disseram que era em Gerizim, e vocês dizem que é em Jerusalém,
ou seja, não se sabe, ao certo, de nada’
Jesus interrompe a mulher e diz algo,
como: ‘você sabe sim, é lá em Jerusalém. Nós adoramos o que conhecemos e vocês
adoram o que não conhecem, porque a salvação vem dos judeus’. O assunto é
Salvação. Ele continua: ‘mas chegou a hora em que você vai poder pedir perdão a
Deus em qualquer lugar’.
A mulher diz algo parecido a: ‘eu
sei, que muitas coisas vão mudar, QUANDO VIER O MESSIAS CHAMADO O CRISTO!’ Os
fariseus não perceberam isso, e ela percebeu. O que ela parece dizer é: ‘eu sei
que tudo é provisório e somente o Messias, quando vier, nos anunciará todas as
coisas, e trará o definitivo. Isso foi tão extraordinário, que ela “forçou”
Jesus a se revelar! E ele diz: 'o Cristo sou EU. EU que falo contigo!' Jesus se
revela como aquele que veio anunciar todas as coisas.
Ela percebeu que tudo era provisório
e que só havia um alguém capaz de mudar isso, de pôr fim à provisoriedade
dessas coisas, e esse alguém era o Messias. É como se ela estivesse dizendo a
ela estava dizendo a Jesus: ‘O senhor pode ser profeta, mas o senhor está indo
longe demais. Só o Messias pode mudar isso’, e Jesus responde, algo como:
‘exato! Eu sou o Messias, eu vim para mudar todas as coisa!’
Jesus quebrou muitos preconceitos
nesse texto. Primeiro, o dos judeus com os samaritanos ao conversar com uma
mulher samaritana; depois, o dos homens judeus contra as mulheres; depois, o da
cuia comum, pois, um judeu não podia beber água na mesma cuia que um samaritano
(pois se ele o fizesse estaria imundo e ficaria 40 dias sem poder prestar culto
a Deus); depois, quando começou a falar com a mulher, Jesus a tratou como se
tratava um mestre, pois ficaram discutindo assuntos teológicos. E mais, Jesus
ofereceu Água Viva (o Espírito Santo) para aquela mulher já cansada de tanto
tabu, de tanto divórcio, só porque tinha opinião própria, e de, agora, estar
exposta ao vitupério por causa de uma sociedade preconceituosa. A Água Viva, a
presença do Espírito Santo, seria a vida eterna dentro dela, que a tornaria uma
pessoa acima de qualquer preconceito, ou melhor, além de qualquer
preconceituoso.
Quando qualquer pessoa trata o
próximo com e a partir do preconceito, essa pessoa demonstra ser um assassino
em potencial, e se torna réu do inferno. Estamos assistindo isso no Brasil cada
vez mais. Em pleno século XXI está ficando cada vez pior ser negro no Brasil, e
eu vejo isso dentro da igreja. Esse preconceito deve estar consumindo Jesus, no
que resta de seus sofrimentos pela Igreja.
Do quê se alimenta alguém que fez
jejum de si mesmo? Ele se alimenta de libertar o próximo, de todos aqueles que
não conseguem fazer jejum de si mesmo. E nesse mundo moderno, nós temos o
preconceito racial sendo retomado ao nível da náusea, e temos esse preconceito
com as mulheres que estão sendo tratadas, cada vez mais, como se todas elas
fossem escravas sexuais: na violência que sofrem no ambiente doméstico, nas
violações, na forma como são tratadas e na forma como são expostas na mídia,
como se fossem mercadorias.
Então, do quê que se alimenta alguém
que faz jejum de si mesmo? Se alimenta da disposição e da disponibilidade nas
mãos de Deus para libertar todos aqueles que sofrem preconceito por parte de
gente que se recusa a fazer jejum de si mesmo. E a denunciar todo esse nível de
preconceito.
Jesus libertou essa mulher de uma
forma impressionante. Jesus ainda vai quebrar mais preconceitos, porque, quando
chegam os judeus, seus discípulos, eles se admiram. Nesse trecho: “Os
discípulos chegaram e se admiraram”, é interessante notar a reação descrita - o
‘se admiraram’ é levar um susto, se surpreender. Como se eles estivessem
dizendo: “o que deu nele?” Mas como era Jesus, eles não disseram nada.
Então começaram a oferecer comida
para Jesus, que disse ter uma comida que ninguém conhecia, e que a comida, que
ele tinha, era fazer a vontade daquele o havia enviado. “A minha comida
consiste em fazer a vontade daquele que me enviou a realizar a sua obra”. Qual
é a obra de Deus? Libertar os seres humanos de toda forma de opressão, a
começar pela opressão que nasce do preconceito, que é a opressão mais comum porque
é a menos rechaçada. E é a menos enfrentada porque é socialmente aceita. Por
exemplo, é socialmente aceito um sujeito fazer piada às custas das mulheres ou
dos pretos, ou de quaisquer etnias. A discriminação foi assimilada. E as
mulheres se submetem, pois tem de sobreviver, e a maioria dos negros também se
submetem, pois, às vezes, parece que não há o que fazer.
Este é um país que assassina pretos e
pobres, é uma veia aberta na rua, o sangue jorra nas sarjetas desse país. A
barbárie, o preconceito, a discriminação, o desrespeito. Se eu fosse dar outro
nome para essa mensagem, eu daria “Jesus contra o Brasil”. Esse país
preconceituoso, e em muitos casos, preconceituoso em nome de Deus, que é um
acinte, um achincalhe da fé.
O que Jesus fez com a mulher samaritana
foi quebrar preconceitos: um atrás do outro. certamente, muito mais do que nos
é possível imaginar. Estamos há dois mil anos do evento, e, por causa do nosso
limite, em relação à cultura, não conseguimos ter toda a ideia do que estava
acontecendo ali.
É o mesmo caso de Marta e Maria,
quando Marta estava preocupada arrumando a casa e exigindo a presença de Maria,
enquanto Maria estava desfrutando da presença de Jesus. Parece que Jesus está
sendo injusto com a Marta, porque ela realmente estava tendo trabalho, mas não
era essa a questão. A questão é que Maria estava sentada aos pés de Jesus
ouvindo os ensinos dele, e isso só era permitido aos homens. Só os homens
podiam ser discipulos, as mulheres não, então as mulheres não se assentavam aos
pés dos mestres. Marta estava tentando salvar a Maria da vergonha, e Jesus do
vexame. Mas Jesus aceita a presença de Maria, o que significava que ele
aceitava Maria como discípula, e adverte Marta sobre sua agitação. Na verdade,
o que Jesus estava dizendo é: ‘Marta, você também devia se sentar aqui’. Não
temos ideia de quantos tabus e preconceitos que Jesus rompeu.
A pergunta que nós fizemos foi: do
quê se alimenta aquele que fez jejum de si mesmo? Ele se alimenta de ser
instrumento de Deus para a realização da sua obra. E qual é a obra de Deus?
Libertar os homens de toda a sorte de opressão, a começar pelo preconceito.
Essa é a obra de Deus.
Aquela mulher levou todos de sua
aldeia para encontrar com Jesus, e eles se converteram. Jesus quebrou mais um
tabu, pregou o evangelho, apresentou-se, ele o Messias de Israel, aos
samaritanos, e os samaritanos creram nEle. Os judeus devem ter ficado muito
irritados com Jesus!
Que nós, a Igreja de Jesus,
entendamos qual é o nosso papel na Terra, temos de sair dessa religião individualista,
que vive pedindo benção para Deus, mas nunca se torna benção na mão de Deus.
Por quê esse país tornou-se esse câncer exposto quando a fé cristã parece
crescer tanto? Porque a fé cristã que está crescendo, não é a fé que, de um
lado faz jejum de si mesmo, e, de outro lado, se alimenta em realizar a obra de
libertação de Deus.
Para nós, homens, cumprirmos o nosso
papel masculino e sermos os sacerdotes da nossa casa, nós não precisamos ter
medo da inteligência, quanto mais brilhante for a pessoa que estiver do nosso
lado, mais fácil é ser sacerdote. Os homens estão abrindo mão da sua postura de
sacerdotes do lar e estão, cada vez mais, se assumindo como gente que se
defende, sendo cada vez mais violentos. E a violência é a arma dos
incompetentes, dos que perderam o seu sentido de função na história, e perderam
a sua identidade.
Homem, seja o sacerdote da sua casa,
seja o sujeito que leva a sua casa a orar, seja o sujeito que leva a sua casa
para Deus. E que Deus o tenha agraciado com esposa e filhos brilhantes. E não
pense que autoridade é a arte de mandar, autoridade é a arte de ser admirado, e
quanto mais uma pessoa aprende a ouvir e a ponderar, antes de decidir, mais
admirado é. Porque na multidão dos conselhos há sabedoria.
Jesus quebrou
muitos tabus sem, em nenhum momento, abrir mão da sua posição. Nesse texto,
Jesus denunciou o preconceito de uma geração, libertando uma mulher de um
estigma negativo, e, na prática, dizendo para ela: “ Eu vim lhe trazer Vida
Eterna! E a Vida Eterna fará você transcender, superar qualquer preconceito e
enfrentar os preconceituosos.” Que Deus nos abençoe!
Ariovaldo Ramos