Hoje é o
dia das mães. Acho fácil falar sobre minha mãe. É uma santa. Perfeita. Ponto
final. Simples assim.
Quero ver
é falar bem de meu pai! O velho é infestado de defeitos: é chato, obeso,
ansioso, apurado, distraído, formal, insuportável, inconveniente, péssimo
piadista, brega, mandão, autoritário, pouco tolerante, descuidado com a
aparência, relapso com datas importantes, faz muitas perguntas e é completamente
desinteressado pelos afazeres de outros. Acho que essa é uma lista bem completa
de seus defeitos. É uma lista exaustiva.
Pode até
parecer uma queixa, mas não o é. Apenas consegui elencar esses defeitos de meu
pai, pois os possuo todos. Tenho todos os defeitos de meu pai – e, claro,
também agrego a eles os meus próprios, com a finalidade de dar um ar de
autenticidade ao que, pretensiosamente, chamo de meu caráter.
É fácil
ter os mesmos defeitos de meu pai. Quero ver é ter suas qualidades. Eu, que tenho
todos os seus defeitos – e os tenho em porção dobrada –, não possuo nenhuma de
suas qualidades. Ele sabe perdoar e esquecer, se dedica com esmero a coisas que
estão acima de seu alcance, age sempre de boa-fé e nunca presume a má-fé dos
outros, tem uma imensa consciência de seus deveres e obrigações, é pontual,
esforçado, se dedica a missões impossíveis por aquilo em que acredita, dá o
sangue e o tempo e o vigor (assim como deu sua juventude) a suas convicções, é
decidido, conseguiu ser exatamente o que queria ser, é feliz, vive no presente,
sabe ser amigo dos necessitados, tem uma sensibilidade aguçada, desconhece o
ressentimento e a ira, presta atenção às coisas, é detalhista, meticuloso, é,
acima de tudo, bom, altruísta, honesto, íntegro, reto, guiado por uma moral
rígida, nunca deixou de pagar uma dívida, ou de cumprir uma obrigação, é
incapaz de tentar tirar vantagem de qualquer situação que possa prejudicar a
outrem. Desapegado das coisas materiais, sempre que juntava dinheiro suficiente
para trocar de carro, conversava com minha mãe e acabavam decidindo colocar os
filhos em uma escola melhor, ou em dar este ou aquele curso a um de nós.
Passou, assim, vinte anos com o mesmo veículo apenas para que pudéssemos ter a
melhor educação que ele podia pagar.
É. Meu
pai é mesmo cheio de defeitos!
Luiz
Roberto Lins
texto muito bom, vale a pena refletir...
ResponderExcluir